14 de abril de 2010

Às vinte e duas horas

Às vinte e duas horas, para vivermos um século, deveríamos estar dormindo, se acreditássemos no provérbio "acordar às seis, almoçar às dez, jantar às seis, deitar às dez, faz o homem viver dez vezes seis". Ora, alguém mais acredita em provérbios? Quem sabe o que são provérbios?
Os nossos hábitos mudaram quase que de repente. Vida nova, moderna.
Se dormíssemos às vinte horas, talvez tivéssemos belos sonhos. Talvez despertasse a nossa pobre imaginação, hoje suprimida pela objetividade científica. Mas a Grande Belém ainda não perdeu seu estilo de grande cidade. Nem as crianças querem deitar a essa hora. Jovens, velhos, doentes, atletas, artistas, todos querem aproveitar intensamente a vida. Cada segundo dela é um mistério. E o que mais nos fascina é o mistério. Dele viemos, nele vivemos, e para ele iremos.
Às vinte e duas horas há luzes no gabinete das pessoas que estudam, das que conversam. Também há nos aposentos de quem chora, de quem ri. Há pessoas nascendo! E morrendo. Cada luz pertence a uma vida.
A distância as entrelaça em silêncio. Se pudéssemos ouvir todas, veríamos de que contrastes surpreendentes são feitas essas diversas identidades.
Às vinte e duas horas, nas ruas desertas, de um lado, repletas, de outro, há flores noturnas que exibem o seu esplendor. É uma hora escura para os pobres, que se abrigam em suas tocas. Mas é clara para o ouro e o diamante. As sombras da noite são assim, caprichosas.
Mas tudo é enganoso. Essas vinte e duas horas são mera ilusão, pois em outros lugares está amanhecendo. Cada lugar vive um momento diferente. E tudo isso deixa de pesar em nossos ombros. Nossa alma vai se tornando alada, livre, enquanto a própria Terra vai deixando de ser cénario drástico e aflitivo; recuperando as suas velhas asas, reafirmando-se Planeta, na grandeza do universo.
- Que horas são?

Miler Silva

12 comentários:

Marcela Santos disse...

São 23:39 e eu ainda estou aqui... Não viverei um século!

Gostei do seu texto. E gostaria, de fato, que o tempo fosse assim imperceptível, queria recuperar as asas de algum tempo atrás...
Mas, o tempo não pára.
23:44h

Amanheceu um pensamento disse...

Poxa, Marcela. Eu vivi mais, infelizmente, até certo ponto.
Às zero hora eu vi Cristo nascer, e morrer.
Às quatro e cinquenta vi a queda do império romano. Pouco depois, às cinco, vi o feudalismo nascer.
Às onze, vi o seu auge.
Às dezesseis, seu "fim". Mas também nascimento de outro alguém.
Às dezoito, uma nova era.
Às dezenove, fábricas, chaminés, conurbações. Lixo!
Às vinte, deveria ter dormido.
Às vinte e uma, as pessoas se perderem no progresso científico, esquecendo que definitivamente todos nós somos poeira estelar. Enfim, o homem condenou-se à liberdade.

Marcela Santos disse...

Ah! Mas, que liberdade frustrante... Muito limitada à matéria.

Marcela Santos disse...

E adorei esses 2010 anos em 21 horas! Muito criativo de sua parte.

Unknown disse...

É até difícil falar de tempo,quando o mesmo não existe.Mas é fácil explicar que organização,compromissos,estudos,internet,provas,calendários e trabalho não seriam projetos utópicos,mas seriam visivelmente atingidos por nosso próprio instinto de liberdade que se desvincula de compromissos alheios diários que entopem a nossa vazão criativa que está subordinada ao novo modelo 'anti-vida'.
O relógio é necessário.O dono do relógio é o explorador.Nós a sua lucrativa colheita nos ponteiros infreaveis.

Marcela Santos disse...

Vocês, meninos, são tão filósofos... Rsrsrs!

'ℓuαиα ℓєѕѕα disse...

Quanta complexidade ú_ú

Miler disse...

1ª Questão:
No comentário exposto por Thiago Vieira, correspondente ao texto "Às vinte e quatro horas", percebemos uma síntese do último parágrafo, somado a duas passagens antecedentes.
Ainda que com uma evasão em relação ao emprego do termo "Projetos utópicos", ele consegue criar um belo cenário. Diante da análise das palavras utilizadas pelo autor em questão, assinale a assertiva que melhor expressa a sua característica predominante:

a) Nerdismo.
b) Marque a alternativa "a", pois ela é a correta. =P

Marcela Santos disse...

2° Questão

No comentário anterior pecebe-se a análise extremamente objetiva e crítica com relação a um outro fragmento comentado. De acordo com seu conhecimento de mundo, assinale a alternativa que justifica tamanha Nerdice:

a)A nerdice-mor é devida a um gene que lhe concebe essa capacidade mutante

b)Caramba! Esse é o texto mais nerdimente comentado do Blog =D

'ℓuαиα ℓєѕѕα disse...

Quanta complexidade ú_ú[2]

Alessandra disse...

Nossa!os comentários sao mais dificieis de entender doque o proprio texto...kkkkkkkkkkkkkk
meninos compleeeexosss!tem um ai até falando de relatividade....kkkkkkkk

Antônio disse...

Ah... Vocês só podem estar de brincadeira comigo! Que texto!
Pena que são tão poucos os textos do Miler. Na verdade,esse blog tem poucos textos para TANTO talento!Se não fosse isso,daria os meus parabéns.