29 de julho de 2011

Enquanto morrem as rosas


 
"Morre a tarde. Erra no ar a divina fragrância.

Fora, a mortiça luz dos crepúsculos arde.

Nas árvores, no oceano, e no azul da distância.

Morre a tarde...



Morrem as rosas. Minhas pálpebras se molham

No pranto das desesperanças dolorosas.

Sobre a mesa, pétala a pétala, se desfolham,

Morrem as rosas...



Morre o teu sonho?...Neste instante o pensamento

Acabrunha o meu ser como um pesar medonho.

Ah, por que temo assim? Dize: neste momento

Morre o teu sonho?..."



                                                                                  (Manuel Bandeira)

Horto

                        Água... Pontes de hidrogênio. Ponte para a Vida!
                        Em ti há refração, reflexão, refração... Meu arco-íris
                        Chove chuva,chore em minha janela
                        Alimente os rios,os bichos... Faça crescer sombras
                        Os filhos nossos precisarão de ti
                        E,se até lá,estiveres aqui
                        Não quebre suas pontes, deixe-os ir...
                        E perdoe-nos por não te deixar naturalmente fluir

                                                                                 (Thiago Vieira Cruz)

28 de julho de 2011

Meu Nada

“Na verdade, Nada é uma palavra esperando tradução.”

Eu costumo me perder no Nada.
Nada são meus pensamentos tão interiorizados, que nenhum som externo é capaz de incomodar.
Nada é o meu olhar fixo e, ao mesmo tempo, disperso no mundo.
Nada são meus momentos de fechar os olhos para fora e olhar um pouco para dentro de mim...
Por isso, às vezes eu preciso de um dia para fazer Nada.
Um dia de Nada, e Tudo fica bem!



(Marcela Santos)

Ele vem. Ele sempre vem

              
              O medo, em certas doses, faz bem à saúde. E, às vezes, carrega sentimentos bons, disfarçados de " Bicho-Papão"...
             Há medo de criança. Há  medo de adulto... E,na intercessão,vive uma transição, que,claro,não é a adolescência, mas, sim, a vontade de não ter medo... Que logo passa... Que cresce e some... Que anda e desfalece...

                                                                                    (Thiago Vieira Cruz)

While sleeping

       Mas, o mundo dos sonhos não dorme. E, em alguma ocasião,virá,com um convite de renovo, oferencendo uma volta nova nas vielas dos pensamentos...
                                                                                       (Thiago Vieira Cruz)

14 de julho de 2011

Haizeak


      A casa estava vazia. Nada havia, a não ser a mobília limpa e lustrada. O luar refletia num enorme espelho plano de um cômodo de dormir. Lá fora, naquela noite triste, estava quem eu menos queria encontrar.
      Ruas vazias: uma leve impressão de desconforto. Não gosto de ruas vazias. Às vezes, sou meio marrenta com o frio. Todavia, a lua, tão alta, roubava-me a atenção maior. E me vi lembrando das pegadas de 1969.
      Ouvi um barulho na cozinha ( por que todos os ruídos mais estranhos acontecem na cozinha? ). Fui andando pelo enorme corredor da minha casa. Algo inesperado acontece. Foi-se a luz... Odeio corredores escuros - ainda mais quando um barulho estranho me persegue a consciência! Sem perceber, estava andando na ponta dos pés. Minha camisola de seda branca se arrastava com meus passos rumo à cozinha. O chão, de porcelanato importado, estava frio. A respiração aumentava... Meus dedos inferiores congelavam. Muito tensa, alcancei a maçaneta da porta. Tremendo, virei-a. Ela se abriu. Nada vi. Mexi no interruptor. Esqueci que a luz se fora. Estava com medo... "Quem está aí?" - perguntei fazendo uma voz grave. "Eu vou chamar a polícia, ouviu?!" - disse morrendo de medo de, realmente, ter que fazer aquilo. Foi então que ouvi passos se aproximando rapidamente de mim. " Tudo bem! Tudo bem! Eu não chamo mais a polícia!" - disse desperada, quando aquela criatura se lançou sobre mim, lambendo o meu rosto. Era o meu cachorrinho. "Que idiota que sou..." - pensei.
      Agora, pelo menos, havia "alguém" comigo. A escuridão permanecia. Espalhei velas pelos cômodos. Era raro faltar luz nos bairros centrais da região de Bilbao, a qual consideramos como parte do que eu e meu povo reconhecemos como País Basco.
      Noite de inverno. O frio foi chegando como carrasco. O aquecedor não funcionava. E por mais que as velas lumiassem o suficiente para ver minha sombra, ainda estava com medo. Eu tinha pavor de sombras.
      Fui para o quarto tentar dormir sob os raios de luz dourados que atravessavam a janela. O meu Rolex acusava 2h.48 . Tivera um dia exausto.
      Abri a janela. Queria ver o luar uma última vez. As estrelas cintilavam mais nítidas devido ao apagão. E os senhores itinerantes fótons faziam um retrato no céu, com pincel movido a  3.10⁸m/s.
      Meus olhos caíram no sono. Cometera o maior erro: esqueci a janela aberta. 
      Ele entrou bem devagar. Analisou os cômodos. Não incomodou o cachorro. Viu-me refletida no enorme espelho plano e a sua respiração o deixou embaçado. Tinha o olhar frio e era frio. Não dizia coisa alguma. Entretanto, seus idiomas mudavam com as estações. Entrou por baixo dos meus lençóis. Senti sua presença. Eu o procurara no verão, mas havia sumido, deixando o descaso. E, por isso, pingava de calor. Eu estava ardente  naquela época. Não o queria agora. Mas ele veio para me invadir. Senti minhas pernas sendo lambidas. Encolhi-me na tentativa de não ir mais além. Porém, ele veio me pegando de costas, lançando-me um silêncio constrangedor e sedutor, que me fez gemer por estar perdida entre aqueles abraços não benquistos. As velas já estavam derretidas. E as poças de cera me olhavam com misericórdia. Mas, de repente, a luz veio descobrindo todos os cômodos. O aquecedor - automático - liberou o seu calor. Energia! O maldito estuprador foi-se correndo, saindo desajeitado pela janela. Não era um homem. Não era um moleque. Pior (!) : era o vento gélido do inverno basco - como falamos: um Icy Haizeak
      Sou do tipo marrenta com o frio!
                                                                                 
                                                                               ( Thiago Vieira Cruz )

11 de julho de 2011

EletroVida

Algo que acho bonito é a diversidade possível de se interpretar a vida.

Conheço um tio que trabalha consertando eletroeletrônicos, eletrodomésticos, eletro enfim. Das poucas vezes que conversamos, pude perceber que ele é bastante inteligente. Costuma me contar das coisas que sabe sobre a Medicina, e das coisas que viu, devido ser curioso. E me pergunta dos aprendizados, dos cadáveres, das práticas. E mesmo que, no meu caso, ainda seja bem pouco, ele sempre acha interessante.

Hoje nós fizemos o inverso. Hoje, fui eu que perguntei.

No quintal da minha avó, é o local de trabalho dele, junto com meu tio. E lá sentei. Como uma criança que está em desenvolvimento, perguntava: O que é isso? Pra que serve? Mas... Por que?

Ele respondeu tudo, e de um jeito bastante interessante.

- Isso aqui - e disse o nome da peça - é como se fosse o coração. Por onde todas as correntes passam.

E mostrou a placa, que poderia ser comparada ao cérebro, sem a qual nada funciona. Cada uma das pecinhas, que poderiam ser órgãos ou qualquer parte funcional, tem sua importância e papel para um bom funcionamento do aparelho. Dizia tudo com suas palavras.

Eu ouvia, aprendia e imaginava...

- Eu sempre comparo os aparelhos como se fosse gente. Pra descobrir qual é o problema, eu também tenho que analisar – Prosseguiu na sua explicação.

- Quando alguém chega trazendo uma televisão quebrada, por exemplo, eu pergunto como foi que aconteceu. O que causou aquele defeito. E fica mais fácil de identificar. É como o médico que conversa com o paciente.

Ele acabava de descrever uma anamnese. E eu vi, mais uma vez, a importância do histórico, da conversa, do direcionamento para chegar a um diagnóstico.

- Quando não sabem dizer o que aconteceu, eu tenho que abrir o aparelho. Não tenho o recurso dos exames. Tenho que ir testando, até descobrir qual o problema.

De certa forma, quando o médico examina, ele está testando. No exame físico, testa a normalidade anatômica. Nos exames laboratoriais, igualmente, testa as normalidades anatômica e fisiológica. O que estiver de mais ou de menos, deve ser “consertado”. Algumas vezes, também é preciso abrir.

- É uma pena que muitos médicos nem examinem mais seus pacientes – reclamou.

- Por que? – Ele me perguntou para não perder o costume. Respondi contando sobre as conversas que temos sobre o assunto.

Foi assim que, hoje, aprendi um pouco sobre eletrônica. Mas aprendi também um pouco mais sobre a vida. Afinal, é preciso experimentar os diversos sabores de viver e interpretar, para se ter um verdadeiro empenho em salvar.

- Tchau. Da próxima vez, conversamos mais sobre os eletros – despediu-se.

Ele gostou de ensinar. E eu adorei aprender...


PS: Gostaria de agradecer aos que têm comentado no blog... Obrigada!
(Marcela Santos)

10 de julho de 2011

A pura realidade

   "Ainda bem que o sol vai acabar um dia!", disse um belga de camisa listrada no meio de uma palestra mundial sobre o aquecimento global. Algumas pessoas ficaram assustadas com a atitude daquele homem estranho e barbudo. Uma senhorinha de óculos muito grandes pensou: "Será que ele nunca ouviu falar em fotossíntese?". Lançando-se sobre uma junta de importantes políticos globais, arremessou sobre a mesa um conjunto de provas que definia o sol como culpado pelo superaquecimento do planeta.
      Aquele homem era um fanático. Dizia que as explosões, oriundas de nossa estrela principal, estavam aumentado em grande proporção. Morava no último andar de um prédio. Todas as noites, observava o céu e percebia que algumas estrelas estavam se fundindo. Aquele homem misterioso analisava todas as luas e, depois de alguns meses de intensa pesquisa, acabou por detectar um enorme aumento em seus brilhos, o que indicava uma maior quantidade de raios incidentes e refletidos. Suas viagens ao Polo Norte o convenceram sobre o aumento do número de partículas do vento solar interagindo mais seriamente com nosso campo magnético terrestre. A frequêcia de fenômenos das auroras boreais estava mais intensa e os montes nevados estavam ficando coloridos ( verde e azul ).
    O palestrante principal se voltou para o estrangeiro indignado e disse:
     - O que há com o Sol, amigo?
     -  Você não percebe como ele está vermelhão? Essa cor indica raiva! Se for Apolo, acho que está se vingando de nossas cabeças consumistas e indiferentes... Estamos ferrados! Temos que enviar, urgentemente, uma super bomba atômica de gelo e congelar parcialmente o sol! E rápido!
     - Hum... Sei. Entendo. Mas, agora é hora de você descansar, "Dr. Brendan". Amanhã, você tem visitas.
     - Mas... o Sol!!!
     - Acaume-se. Já enviamos um e-mail a Mercúrio,que dará um antitérmico ao Sol. Ele está com febre. É isso...
     - Ahhh...Tudo bem, então! Entendi...
     E mais uma noite se foi. Não havia palestra mundial nem belgas; tampouco camisas listradas. Pesquisas, viagens, prédios, montes coloridos e auroras? Nada disso. Era só uma adolescente em crise no manicômio "Halfway house for mentally ill", em San Diego. 
     - Durma bem,senhorita Lizzie...

                                                                                      ( Thiago Vieira Cruz ) 

Não era a Física

   Georg era do tipo calado. Nunca fora à cidade. Seus pais eram simples lavradores. Era o primeiro dia que o menino viajaria de carro. Estava com "as malas prontas". Havia poucas roupas. Sentado num tronco de árvore cortada há 3 anos,na beira da estrada,ele pensava como seria sua vida num lugar que nem sabia como saber. Sempre lembrava dos conselhos dos pais. E,por isso,fazia de seus pensamentos os seus melhores amigos. Em sua casa,não havia televisão. Tudo o que tinha era um enorme jardim,que o servia de Olimpo... que o vendia criatividade. O custo?... Imaginação.
   Era filho único. Sua mãe ainda era nova. Problemas com a gravidez fizeram-na subtrair os ovários. O pai depositava suas espectativas de bom futuro no filho; via-o como um grande engenheiro.
   Um caminho de terra suspensa anuncia a chegada de um veículo. Georg veria a cidade. Olhou os seus pais - estavam com camisas marcadas de sol e alguns fiapos de capim. Ao longe,avistou as lágrimas do jardim. Ainda sentado,viu o carro negro e bem polido em sua frente. Uma janela automática se abriu. De dentro,uma voz: "Vamos,garoto!".
   Uma pequena mochila avermelhada foi colocada no porta-malas. A porta do carro se abriu para o menino. Mais um conselho de mãe:"Meu filho,não te sintas só. Nossa força está em nossa união,a qual se origina ao redor de nossa positividade. E se nossos caminhos de energia estiverem bem compactados,sentiremos mais a força do nosso amor". Ela não queria falar de campo elétrico; não queria citar que as linhas de força originam-se na positividade das cargas ou no infinito e que tornam os campos mais fortes na proximidade de linhas de indução. Era só um coração de mãe com saudades. Era só a simplicidade de palavras humildes.
   O carro se foi com o menino. Georg olhou pelo vidro de trás e acenou com um "tchauzinho" vagaroso e entristecido... Iria estudar na cidade.
   Já era noite quando o menino chegou. Assustado com tantos nomes e números pendurados,perguntava-se: "O que é edifício?";"O que é avenida?";"O que é spa?"... Ficava impressionado ao ver tantos carros circulando. Havia outras crianças! Havia,também,muitas luzes! Mas o seu destino era a escola do govergo:"Institute of education and development to self-taught". Georg era inteligentíssimo. E a sua curiosidade estava cada vez mais aguçada. Quando atravessou as portas do instituto,foi recebido por uma senhora de olhos muito azuis. Era Martha,a diretora de missões integradas,responsável pela recepção e acompanhamento de crianças especiais. Ofereceu uma xícara de chocolate quente ao pequeno Georg. "Chocolate quente?"- ele perguntou,sem saber o que era aquilo. Todavia o cheiro o conviou a um gole. "Chocolate quente" - pensou. O menino sorriu com um bigode de espuma achocolatada. 
   Levado ao alojamento,a diretora lhe deu produtos de higiene; apresentou-o à turma,que o recepcionou com um "Seja bem-vindo,Georg!Pode contar conosco!". O menino estava nervoso. Estava muito sério. Logo,lembrou-se de um conselho do pai:"Filho,nossos sorrisos batem e voltam. E quanto mais rápido você conseguir sorrir,maior será a rapidez dos outros sorrisos que,iguais,voltarão para você". O pai não queria fazer menção às leis da reflexão;não sabia de propriedades de massa e qualidade inerentes à velocidade em tal fenômeno. Era só um pai humilde;sem palavras ensaiadas. Era só um pai sorridente.
   O desenvolvimento de Georg surpreendia! A cada mês,as crianças cursavam 3 níveis de dificuldade. Georg cursava 8! Geralmente,seus colegas lhe pediam ajuda. A meta do instituto era ser referência. E,todos os dias,os alunos cantavam o hino da escola. "Tornar o instituto uma referência" - pensava constantemente Georg. Foi então que lembrou de um outro conselho materno: "Filhinho,para ser grande,é necessário que se abandonem redomas. Quando todos se unem com o mesmo potencial e,juntos,procuram,de alguma forma,atingir determinado ponto,tudo fica maior e melhor! O que adianta esconder sabedoria? Um exército inteligente ou um soldado egoísta:qual o mais forte? Forme correntes de saberes direcionados. Com certeza,o trabalho será positivo". Ela não queria se referir à intensidade da corrente elétrica,tampouco à potencia das cargas; não sabia que,quando há fluxo orientado de portadores de carga,há aproveitamento do máximo de energia relacionada à intensidade média da corrente; nunca ouviu falar de direcionamento eletrodinâmico entre cargas para desenvolvimento de trabalho potencial. Erá só uma mãe inesquecível na mente do filho. Eram só as simples palavras que um coração,um dia,desenhou em outro.
   Georg se empenhou com vários alunos na luta pela conquista do prêmio de reconhecimento institucional.Para isso,teriam que fazer várias provas,alcançar médias altíssimas. Os pensamentos convergiam para a conquista.
   O verão estava chegando. Georg,no alojamento,arrumava suas coisas para passar as férias em casa. Veria,enfim,os seus maiores professores. Ouviu seu nome sendo chamado. Era uma urgência na diretoria. Quando chegou, Martha o recebeu com um grande sorriso e um beijo que o deixou vermelhinho... Na mesa principal da sala de coordenação central,um troféu : "Award reference special education for children worldwide ". Georg sorriu e respirou fundo. A diretora se aproximou.
   - Com sua ajuda,Georg,conseguimos o título! - disse Martha,com os olhos marejados. Você merece um prêmio. O que você quiser... É só pedir!
   O menino abaixou a cabeça e se lembrou do enorme jardim,o seu Olimpo,o penhor de criatividade. Então,levantando o rosto,respondeu serenamente:
   - Imaginação... 


                                                                          (Thiago Vieira Cruz)