28 de dezembro de 2011

CONVOCAÇÃO

"PRECISO DE ALGUÉM
Que me olhe nos olhos quando falo.
Que ouça as minhas tristezas e neuroses com paciência.
Preciso de alguém, que venha brigar ao meu lado sem precisar ser convocado; alguém Amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo que posso odia-lo por isso.
Neste mundo de céticos, preciso de alguém que creia, nesta coisa misteriosa, desacreditada, quase impossivel de encontrar: A Amizade.
Que teime em ser leal, simples e justo, que não vá embora se algum dia eu perder o meu ouro e não for mais a sensação da festa.
Preciso de um Amigo que receba com gratidão o meu auxílio, a minha mão estendida.
Mesmo que isto seja pouco para as suas necessidades.
Preciso de um Amigo que também seja companheiro, nas farras e pescarias, nas guerras e alegrias, e que no meio da tempestade, grite em coro comigo:
"Nós ainda vamos rir muito disso tudo"
Não pude escolher aqueles que me trouxeram ao mundo, mas posso escolher o meu Amigo.
E nessa busca empenho a minha própria alma, pois com uma Amizade Verdadeira, a vida se torna mais simples, mais rica e mais bela..." 

Charlie Chaplin

19 de dezembro de 2011

Um bom ano


        Quando o nosso querido chefe de turma disse que foi incrível a química que a turma A teve, todos começaram a rir. É claro!, nenhuma mancada passa em branco entre grandes amigos. E nós, no fundo, sabíamos que ele estava falando nada mais que uma verdade. Formamos laços de amizade e companheirismo dignos de serem mencionados.
            Desde o primeiro dia de aula, todos já estavam em ritmo de altas gargalhadas, apontando um para o outro, mesmo sem que todos se conhecessem, na escolha nada democrática de um representante. Os risos e brincadeiras seguiram daí para cada vez melhor.
            Obviamente, tivemos nossos momentos de estresses. Afinal, o curso, a Universidade, e nós mesmos, temos nossos dias ruins. Isso, porém, faz parte de um algo que nos ajudará a fortalecer laços e compreensões.
            Eu, particularmente, tenho muito a agradecê-los. Em dias que chegava naquele laboratório de anatomia, tão desanimada, encontrava com vocês reunidos e contando piadas, histórias e dando risadas que me alegravam a manhã. Por isso, vocês foram os grandes responsáveis por transformar positivamente muitos dos meus dias.
            A convivência me fez conhecê-los e admirar as personalidades de todos vocês. De cada um de vocês. E, sinceramente, vocês são pessoas maravilhosas.
            É certo que ninguém é perfeito, mas é com suas exatas características reunidas que posso dizer que nós formamos, mais que uma turma, formamos um time perfeito em suas contradições. E dá-lhe Charriot Futebol Clube!

            Obrigada por terem me proporcionado um bom ano! E por, agora, fazerem parte de minha história!

            São todos especiais em meu coração!


Marcela Santos

8 de dezembro de 2011

O mundo está ao contrário


Enquanto alguns brigam, mentem e roubam
Buscando dinheiro, prazer e mansões
Outros buscam um simples Vilarejo, que lhes é de direito
Então, brigam, mentem e roubam
Simplesmente por não ter opção



MS

27 de outubro de 2011

Unimultiplicidade

            Como se fosse a única e nada mais importasse, saiu caminhando pelo mundo. Era, provavelmente, o que pensavam os outros.
            Mas a verdade é que foi, exatamente, por perceber que não era a única e por sentir que realmente se importava o bastante para tal, foi que ela partiu. Não sem rumo, como os que não fazem caso. Mas com um propósito. Podemos até dizer que com uma causa, um meio e um fim.
            O motivo não foi porque sua vida não fazia mais sentido. Fora, talvez, a percepção de que pode haver mais de um sentido em viver; e que, por isso, diversos caminhos são trilhados em ciclos que se reciclam, indefinidamente, no que chamamos de fases ou Momentos da vida.
            E não seria para sempre. Afinal, nada é. Mas pretendia, nessa nova caminhada, dedicar-se de todo o coração. Talvez, até, de todo o corpo. O que fosse, pois, necessário.
            Acontece que ela havia sido tomada por um sentimento de Ajudar. Tão fortemente, porém, que ,diferente da maioria, simplesmente agiu.
            Sentia como se o socorro prestado fosse primeiro a si mesma. Era como se houvesse um grito sufocado que não mais suportava ver tantos fatos, casos e sapos, sem se libertar como forma de Ação.
            Ela foi.
            Alguém precisava fazer algo!
            Ela via olhares de crianças que gostariam de brincar, correr, pular... E que, nem mesmo, davam conta de chorar ou reclamar por auxílio. Estavam cansadas demais, e já não aguentavam suplicar em vão.
            Via os olhares dos velhos... Tão cansados! Talvez, de uma vida sem brincar, correr, pular e de súplicas em vão.
            Via jovens e adultos com olhares tão mórbidos! É que a desesperança acaba por nos arrancar o brilho, a vontade...
            Ela fora, afinal, partilhar aquilo que sabia. Como deveria ser natural naquilo que chamamos de sociedade, civilização. E praticava sua arte de curar o corpo; que, logo depois, se tornou de corpo e alma.
            Dividia alegrias. Dividia tristezas. Tinha dias bons e maus. Não foi por decidir ajudar que se tornara uma santa. Ou que tudo, dali, daria certo em sua vida.
            Aquele era apenas um novo sentido de viver.
            Havia uma causa, um meio e um fim.
            Não eu. Não você. Nós! Todos nós.


(Marcela Santos)

3 de outubro de 2011

Claro • Escuro



Tem dias que o "simples" amanhecer é luz que nos dá força para todo o dia. Outras vezes, porém, vivemos uma eterna tarde gris. Isso, em nenhum momento, quer dizer que estejamos, ou até que sejamos, mal quistos da vida. Viver, afinal, é experimentar a todos os sentimentos que nos é de direito. Há, pois, mais plenitude em admirar o claro, se já houvermos conhecido a imagem do escuro.
O equilíbrio, de alguma forma, depende do desequilíbrio. A própria natureza tem seu "grau de desordem", quando energias se dispersam. Espontaneidade natural da vida.
Somos energia dispersa. Um tipo de desordem organizada perfeitamente em si. É claro! Ou será escuro?
Não importa. Sejamos apenas perfeitos e imperfeitos, bons e maus, crentes e céticos. Enxerguemos aqui nessa escuridão. Sigamos, depois, para aquele clarão. Dizem que há sempre uma luz no fim do túnel.


(Marcela Santos)

29 de setembro de 2011

Paralaxe


    Nossas ações correspondem à roupa, cuja serventia calha somente à alma. Despir essa circunstância seria como assaltar o próprio significado ou disseminar vendas nos olhos que temos em nossos tempos. Escolher de coração aberto. Naturalizar o sentimento de risco. Pode-se até dizer que fazer escolhas é viver. Afinal, um dia, a vida foi a própria escolha e sempre existiu desde que tudo se misturava. Há algo grande em escolher. E tudo é isso.
    A vida jamais terminará. Nem se sabe, ao certo, quando ela começou. Posso dizer que que sou algo imortal. Mas, por certos motivos "desconhecidos", isso não me causa glórias. Grandes nomes físicos provaram passados distantes permeados por uma mesma realidade. Tudo e nada: iguais. Nada havia além de um ponto concentrado sistematicamente caótico. Acontece que eu estava naquilo. Ou melhor, tudo estava lá. Nada pode ser criado ou destruído. Até os pensamentos que tivermos serão algo que já existiu. E tudo isso, em algum contexto desmemoriado, foi uma decisão. Decisão que tomei, que todos tomamos.
    O infinito nasceu para a Coletividade. A existência é regada por conectividade. E nada está em bolha de realidade isolada, ainda que esta, em certos sentidos, surja de modos tão desiguais; estranhos. A vida e suas escolhas vivem em uma espécie de redoma, cuja própria natureza é de liberdade e simetria. Uníssono. Escolher, portanto, é simplesmente pensar. E fazer escolhas é apenas a ação de escolher, isto é, um outro pensar...
    O verdadeiro significado de selecionar o que terei em um determinado momento da "minha vida" se deu quando minha vida, em um determinado momento, escolheu um significado verdadeiro: a inversão dos fatos. Era tudo "meio parado". Precisava alongar alguns músculos, bocejar; experimentar outros caminhos, outras formas. Foi quando algumas opiniões minhas explodiram, espalharam energia tamanha, cuja influência fez brotar um querer comum de escolha melhor. Explodimos em nossos desejos! E, em frações de tempos, viemos parar aqui, como escritores e leitores; frutos do significado de escolhas; inteligência adaptativa, neurônios perdidos dos deuses... Em tudo há diferença, olhares diversos! Enfim.


                                                                                    ( Thiago Vieira Cruz)

Isso

- Mas o que isso está fazendo aqui? Vai atrapalhar minhas vendas! – resmungou o moço, dono de um comércio.

- Saia já daqui! – gritou, acordando “Isso”.

“Isso” levantou rapidamente, com um susto. Mas, na verdade, era devagar... “Isso” não tinha muita força para ser rápido.

- Me deixe! Saia! – respondeu “Isso”.

O moço entrou em sua lojinha para buscar uma garrafa. Voltou para fora e falou:

- Olhe, trouxe isto para você... – e balançava a garrafa, como se estivesse mostrando alimento a um bicho qualquer.

- Me dá! Me dá! – implorou “Isso”.

- Então, venha cá buscar e saia já daí de frente à minha loja. – disse o moço.

            E continuava balançando a garrafa...

- Eu vou sair, vou sair! Mas me dá!

            “Isso” corria em direção à garrafa. Mas, na verdade, “Isso” se arrastava, porque estava em um estado de quase total degradação.

            O que “Isso” tanto queria da garrafa era um pouco mais de sua água do esquecimento. “Isso” não fazia a menor questão de pedir alimento para sobreviver. “Isso” só queria ficar desacordado e passar por mais um dia, esquecido de viver.

            O moço não se importava com “Isso”. Jamais lhe deu um prato de comida. Mas fazia questão de balançar a garrafa do lado de fora da loja, para que “Isso” saísse de lá. O moço também esquecia um pouco de viver.

“Isso” era tratado como se fosse um bicho qualquer...

            “Isso” nem era chamado de homem, pelo próprio homem.


(Marcela Santos)

25 de setembro de 2011

Baby, it's cold outside

I have a serious problem about the cold.
Not just body cold...
But I always feel warm when you catch me in your arms.
Also, not just body warm...
It's like if my soul feel confortable too.
Protected by you..
Cause, baby, you make me heated when it's cold outside.
Heart, body and soul.



MS

15 de setembro de 2011

Cópulas Conceituais

Peço lincença aos meus companheiros de blog, para vir aqui não fazendo uma postagem de texto, mas para indicar um blog querido, que acaba de iniciar...

Cópulas Conceituais

Do meu querido amor, Thiago Vieira Cruz.
Uma página de escrita cotidiana, cheia de sentimento e razão. Uma mistura que se torna bela. Como o autor.

Visitem! Comentem! Vale à pena passar por lá...


Abraços de Marcela Santos

13 de setembro de 2011

Distância, tempo...saudade das amizades

Eu perdi o tempo...
E encontrei a distância...
Surgiu o desejo de abraçar...
É  difícil, será que terei que esperar...
Muito ou pouco que muito...


E os dias tornam-se em anos, os minutos em horas.
Espera...eu espero...
Por um abraço...um telefonema ...um simples "olá".
Espera...espero...
Só restam lembranças...Lindas e boas lembranças...
Ah!Lembranças....saudades, sentimento único no peito.
Mas nunca a desesperança, porque sei que algum dia o tempo diminuirá a distância.


Rafaela do Vale

17 de agosto de 2011

Breathe

É como se a tua presença fosse algo de respirável, que fica impregnado dentro de mim.
E, quando estamos, há muito, distantes, é como se os teus rastros fossem se esvaindo e algo faltasse no ar.
É como se, nesses momentos, fechar os olhos e resgatar lembranças de ti trouxessem de volta algo que me permite, novamente, suspirar.

É como se fosse assim... A saudade de ti, em mim.


(Marcela Santos)

5 de agosto de 2011

Congênito

         Nosso organismo age em favor de si mesmo com muita perfeição. Faz o possível para que estejamos bem, dividindo tarefas para sua eficiência e emitindo alertas para nossa proteção. Busca sempre pelo equilíbrio interno - o que chamamos de homeostasia. Além disso, busca consertar as falhas que, por ventura, tenha deixado passar.
         Mas, ainda assim, o nosso organismo é passível de erros.

        Lembro, com isso, das exatas palavras de um excelente professor:
         "Errar é mais que humano. Errar é biológico."


(Marcela Santos)

29 de julho de 2011

Enquanto morrem as rosas


 
"Morre a tarde. Erra no ar a divina fragrância.

Fora, a mortiça luz dos crepúsculos arde.

Nas árvores, no oceano, e no azul da distância.

Morre a tarde...



Morrem as rosas. Minhas pálpebras se molham

No pranto das desesperanças dolorosas.

Sobre a mesa, pétala a pétala, se desfolham,

Morrem as rosas...



Morre o teu sonho?...Neste instante o pensamento

Acabrunha o meu ser como um pesar medonho.

Ah, por que temo assim? Dize: neste momento

Morre o teu sonho?..."



                                                                                  (Manuel Bandeira)

Horto

                        Água... Pontes de hidrogênio. Ponte para a Vida!
                        Em ti há refração, reflexão, refração... Meu arco-íris
                        Chove chuva,chore em minha janela
                        Alimente os rios,os bichos... Faça crescer sombras
                        Os filhos nossos precisarão de ti
                        E,se até lá,estiveres aqui
                        Não quebre suas pontes, deixe-os ir...
                        E perdoe-nos por não te deixar naturalmente fluir

                                                                                 (Thiago Vieira Cruz)

28 de julho de 2011

Meu Nada

“Na verdade, Nada é uma palavra esperando tradução.”

Eu costumo me perder no Nada.
Nada são meus pensamentos tão interiorizados, que nenhum som externo é capaz de incomodar.
Nada é o meu olhar fixo e, ao mesmo tempo, disperso no mundo.
Nada são meus momentos de fechar os olhos para fora e olhar um pouco para dentro de mim...
Por isso, às vezes eu preciso de um dia para fazer Nada.
Um dia de Nada, e Tudo fica bem!



(Marcela Santos)

Ele vem. Ele sempre vem

              
              O medo, em certas doses, faz bem à saúde. E, às vezes, carrega sentimentos bons, disfarçados de " Bicho-Papão"...
             Há medo de criança. Há  medo de adulto... E,na intercessão,vive uma transição, que,claro,não é a adolescência, mas, sim, a vontade de não ter medo... Que logo passa... Que cresce e some... Que anda e desfalece...

                                                                                    (Thiago Vieira Cruz)

While sleeping

       Mas, o mundo dos sonhos não dorme. E, em alguma ocasião,virá,com um convite de renovo, oferencendo uma volta nova nas vielas dos pensamentos...
                                                                                       (Thiago Vieira Cruz)

14 de julho de 2011

Haizeak


      A casa estava vazia. Nada havia, a não ser a mobília limpa e lustrada. O luar refletia num enorme espelho plano de um cômodo de dormir. Lá fora, naquela noite triste, estava quem eu menos queria encontrar.
      Ruas vazias: uma leve impressão de desconforto. Não gosto de ruas vazias. Às vezes, sou meio marrenta com o frio. Todavia, a lua, tão alta, roubava-me a atenção maior. E me vi lembrando das pegadas de 1969.
      Ouvi um barulho na cozinha ( por que todos os ruídos mais estranhos acontecem na cozinha? ). Fui andando pelo enorme corredor da minha casa. Algo inesperado acontece. Foi-se a luz... Odeio corredores escuros - ainda mais quando um barulho estranho me persegue a consciência! Sem perceber, estava andando na ponta dos pés. Minha camisola de seda branca se arrastava com meus passos rumo à cozinha. O chão, de porcelanato importado, estava frio. A respiração aumentava... Meus dedos inferiores congelavam. Muito tensa, alcancei a maçaneta da porta. Tremendo, virei-a. Ela se abriu. Nada vi. Mexi no interruptor. Esqueci que a luz se fora. Estava com medo... "Quem está aí?" - perguntei fazendo uma voz grave. "Eu vou chamar a polícia, ouviu?!" - disse morrendo de medo de, realmente, ter que fazer aquilo. Foi então que ouvi passos se aproximando rapidamente de mim. " Tudo bem! Tudo bem! Eu não chamo mais a polícia!" - disse desperada, quando aquela criatura se lançou sobre mim, lambendo o meu rosto. Era o meu cachorrinho. "Que idiota que sou..." - pensei.
      Agora, pelo menos, havia "alguém" comigo. A escuridão permanecia. Espalhei velas pelos cômodos. Era raro faltar luz nos bairros centrais da região de Bilbao, a qual consideramos como parte do que eu e meu povo reconhecemos como País Basco.
      Noite de inverno. O frio foi chegando como carrasco. O aquecedor não funcionava. E por mais que as velas lumiassem o suficiente para ver minha sombra, ainda estava com medo. Eu tinha pavor de sombras.
      Fui para o quarto tentar dormir sob os raios de luz dourados que atravessavam a janela. O meu Rolex acusava 2h.48 . Tivera um dia exausto.
      Abri a janela. Queria ver o luar uma última vez. As estrelas cintilavam mais nítidas devido ao apagão. E os senhores itinerantes fótons faziam um retrato no céu, com pincel movido a  3.10⁸m/s.
      Meus olhos caíram no sono. Cometera o maior erro: esqueci a janela aberta. 
      Ele entrou bem devagar. Analisou os cômodos. Não incomodou o cachorro. Viu-me refletida no enorme espelho plano e a sua respiração o deixou embaçado. Tinha o olhar frio e era frio. Não dizia coisa alguma. Entretanto, seus idiomas mudavam com as estações. Entrou por baixo dos meus lençóis. Senti sua presença. Eu o procurara no verão, mas havia sumido, deixando o descaso. E, por isso, pingava de calor. Eu estava ardente  naquela época. Não o queria agora. Mas ele veio para me invadir. Senti minhas pernas sendo lambidas. Encolhi-me na tentativa de não ir mais além. Porém, ele veio me pegando de costas, lançando-me um silêncio constrangedor e sedutor, que me fez gemer por estar perdida entre aqueles abraços não benquistos. As velas já estavam derretidas. E as poças de cera me olhavam com misericórdia. Mas, de repente, a luz veio descobrindo todos os cômodos. O aquecedor - automático - liberou o seu calor. Energia! O maldito estuprador foi-se correndo, saindo desajeitado pela janela. Não era um homem. Não era um moleque. Pior (!) : era o vento gélido do inverno basco - como falamos: um Icy Haizeak
      Sou do tipo marrenta com o frio!
                                                                                 
                                                                               ( Thiago Vieira Cruz )

11 de julho de 2011

EletroVida

Algo que acho bonito é a diversidade possível de se interpretar a vida.

Conheço um tio que trabalha consertando eletroeletrônicos, eletrodomésticos, eletro enfim. Das poucas vezes que conversamos, pude perceber que ele é bastante inteligente. Costuma me contar das coisas que sabe sobre a Medicina, e das coisas que viu, devido ser curioso. E me pergunta dos aprendizados, dos cadáveres, das práticas. E mesmo que, no meu caso, ainda seja bem pouco, ele sempre acha interessante.

Hoje nós fizemos o inverso. Hoje, fui eu que perguntei.

No quintal da minha avó, é o local de trabalho dele, junto com meu tio. E lá sentei. Como uma criança que está em desenvolvimento, perguntava: O que é isso? Pra que serve? Mas... Por que?

Ele respondeu tudo, e de um jeito bastante interessante.

- Isso aqui - e disse o nome da peça - é como se fosse o coração. Por onde todas as correntes passam.

E mostrou a placa, que poderia ser comparada ao cérebro, sem a qual nada funciona. Cada uma das pecinhas, que poderiam ser órgãos ou qualquer parte funcional, tem sua importância e papel para um bom funcionamento do aparelho. Dizia tudo com suas palavras.

Eu ouvia, aprendia e imaginava...

- Eu sempre comparo os aparelhos como se fosse gente. Pra descobrir qual é o problema, eu também tenho que analisar – Prosseguiu na sua explicação.

- Quando alguém chega trazendo uma televisão quebrada, por exemplo, eu pergunto como foi que aconteceu. O que causou aquele defeito. E fica mais fácil de identificar. É como o médico que conversa com o paciente.

Ele acabava de descrever uma anamnese. E eu vi, mais uma vez, a importância do histórico, da conversa, do direcionamento para chegar a um diagnóstico.

- Quando não sabem dizer o que aconteceu, eu tenho que abrir o aparelho. Não tenho o recurso dos exames. Tenho que ir testando, até descobrir qual o problema.

De certa forma, quando o médico examina, ele está testando. No exame físico, testa a normalidade anatômica. Nos exames laboratoriais, igualmente, testa as normalidades anatômica e fisiológica. O que estiver de mais ou de menos, deve ser “consertado”. Algumas vezes, também é preciso abrir.

- É uma pena que muitos médicos nem examinem mais seus pacientes – reclamou.

- Por que? – Ele me perguntou para não perder o costume. Respondi contando sobre as conversas que temos sobre o assunto.

Foi assim que, hoje, aprendi um pouco sobre eletrônica. Mas aprendi também um pouco mais sobre a vida. Afinal, é preciso experimentar os diversos sabores de viver e interpretar, para se ter um verdadeiro empenho em salvar.

- Tchau. Da próxima vez, conversamos mais sobre os eletros – despediu-se.

Ele gostou de ensinar. E eu adorei aprender...


PS: Gostaria de agradecer aos que têm comentado no blog... Obrigada!
(Marcela Santos)

10 de julho de 2011

A pura realidade

   "Ainda bem que o sol vai acabar um dia!", disse um belga de camisa listrada no meio de uma palestra mundial sobre o aquecimento global. Algumas pessoas ficaram assustadas com a atitude daquele homem estranho e barbudo. Uma senhorinha de óculos muito grandes pensou: "Será que ele nunca ouviu falar em fotossíntese?". Lançando-se sobre uma junta de importantes políticos globais, arremessou sobre a mesa um conjunto de provas que definia o sol como culpado pelo superaquecimento do planeta.
      Aquele homem era um fanático. Dizia que as explosões, oriundas de nossa estrela principal, estavam aumentado em grande proporção. Morava no último andar de um prédio. Todas as noites, observava o céu e percebia que algumas estrelas estavam se fundindo. Aquele homem misterioso analisava todas as luas e, depois de alguns meses de intensa pesquisa, acabou por detectar um enorme aumento em seus brilhos, o que indicava uma maior quantidade de raios incidentes e refletidos. Suas viagens ao Polo Norte o convenceram sobre o aumento do número de partículas do vento solar interagindo mais seriamente com nosso campo magnético terrestre. A frequêcia de fenômenos das auroras boreais estava mais intensa e os montes nevados estavam ficando coloridos ( verde e azul ).
    O palestrante principal se voltou para o estrangeiro indignado e disse:
     - O que há com o Sol, amigo?
     -  Você não percebe como ele está vermelhão? Essa cor indica raiva! Se for Apolo, acho que está se vingando de nossas cabeças consumistas e indiferentes... Estamos ferrados! Temos que enviar, urgentemente, uma super bomba atômica de gelo e congelar parcialmente o sol! E rápido!
     - Hum... Sei. Entendo. Mas, agora é hora de você descansar, "Dr. Brendan". Amanhã, você tem visitas.
     - Mas... o Sol!!!
     - Acaume-se. Já enviamos um e-mail a Mercúrio,que dará um antitérmico ao Sol. Ele está com febre. É isso...
     - Ahhh...Tudo bem, então! Entendi...
     E mais uma noite se foi. Não havia palestra mundial nem belgas; tampouco camisas listradas. Pesquisas, viagens, prédios, montes coloridos e auroras? Nada disso. Era só uma adolescente em crise no manicômio "Halfway house for mentally ill", em San Diego. 
     - Durma bem,senhorita Lizzie...

                                                                                      ( Thiago Vieira Cruz ) 

Não era a Física

   Georg era do tipo calado. Nunca fora à cidade. Seus pais eram simples lavradores. Era o primeiro dia que o menino viajaria de carro. Estava com "as malas prontas". Havia poucas roupas. Sentado num tronco de árvore cortada há 3 anos,na beira da estrada,ele pensava como seria sua vida num lugar que nem sabia como saber. Sempre lembrava dos conselhos dos pais. E,por isso,fazia de seus pensamentos os seus melhores amigos. Em sua casa,não havia televisão. Tudo o que tinha era um enorme jardim,que o servia de Olimpo... que o vendia criatividade. O custo?... Imaginação.
   Era filho único. Sua mãe ainda era nova. Problemas com a gravidez fizeram-na subtrair os ovários. O pai depositava suas espectativas de bom futuro no filho; via-o como um grande engenheiro.
   Um caminho de terra suspensa anuncia a chegada de um veículo. Georg veria a cidade. Olhou os seus pais - estavam com camisas marcadas de sol e alguns fiapos de capim. Ao longe,avistou as lágrimas do jardim. Ainda sentado,viu o carro negro e bem polido em sua frente. Uma janela automática se abriu. De dentro,uma voz: "Vamos,garoto!".
   Uma pequena mochila avermelhada foi colocada no porta-malas. A porta do carro se abriu para o menino. Mais um conselho de mãe:"Meu filho,não te sintas só. Nossa força está em nossa união,a qual se origina ao redor de nossa positividade. E se nossos caminhos de energia estiverem bem compactados,sentiremos mais a força do nosso amor". Ela não queria falar de campo elétrico; não queria citar que as linhas de força originam-se na positividade das cargas ou no infinito e que tornam os campos mais fortes na proximidade de linhas de indução. Era só um coração de mãe com saudades. Era só a simplicidade de palavras humildes.
   O carro se foi com o menino. Georg olhou pelo vidro de trás e acenou com um "tchauzinho" vagaroso e entristecido... Iria estudar na cidade.
   Já era noite quando o menino chegou. Assustado com tantos nomes e números pendurados,perguntava-se: "O que é edifício?";"O que é avenida?";"O que é spa?"... Ficava impressionado ao ver tantos carros circulando. Havia outras crianças! Havia,também,muitas luzes! Mas o seu destino era a escola do govergo:"Institute of education and development to self-taught". Georg era inteligentíssimo. E a sua curiosidade estava cada vez mais aguçada. Quando atravessou as portas do instituto,foi recebido por uma senhora de olhos muito azuis. Era Martha,a diretora de missões integradas,responsável pela recepção e acompanhamento de crianças especiais. Ofereceu uma xícara de chocolate quente ao pequeno Georg. "Chocolate quente?"- ele perguntou,sem saber o que era aquilo. Todavia o cheiro o conviou a um gole. "Chocolate quente" - pensou. O menino sorriu com um bigode de espuma achocolatada. 
   Levado ao alojamento,a diretora lhe deu produtos de higiene; apresentou-o à turma,que o recepcionou com um "Seja bem-vindo,Georg!Pode contar conosco!". O menino estava nervoso. Estava muito sério. Logo,lembrou-se de um conselho do pai:"Filho,nossos sorrisos batem e voltam. E quanto mais rápido você conseguir sorrir,maior será a rapidez dos outros sorrisos que,iguais,voltarão para você". O pai não queria fazer menção às leis da reflexão;não sabia de propriedades de massa e qualidade inerentes à velocidade em tal fenômeno. Era só um pai humilde;sem palavras ensaiadas. Era só um pai sorridente.
   O desenvolvimento de Georg surpreendia! A cada mês,as crianças cursavam 3 níveis de dificuldade. Georg cursava 8! Geralmente,seus colegas lhe pediam ajuda. A meta do instituto era ser referência. E,todos os dias,os alunos cantavam o hino da escola. "Tornar o instituto uma referência" - pensava constantemente Georg. Foi então que lembrou de um outro conselho materno: "Filhinho,para ser grande,é necessário que se abandonem redomas. Quando todos se unem com o mesmo potencial e,juntos,procuram,de alguma forma,atingir determinado ponto,tudo fica maior e melhor! O que adianta esconder sabedoria? Um exército inteligente ou um soldado egoísta:qual o mais forte? Forme correntes de saberes direcionados. Com certeza,o trabalho será positivo". Ela não queria se referir à intensidade da corrente elétrica,tampouco à potencia das cargas; não sabia que,quando há fluxo orientado de portadores de carga,há aproveitamento do máximo de energia relacionada à intensidade média da corrente; nunca ouviu falar de direcionamento eletrodinâmico entre cargas para desenvolvimento de trabalho potencial. Erá só uma mãe inesquecível na mente do filho. Eram só as simples palavras que um coração,um dia,desenhou em outro.
   Georg se empenhou com vários alunos na luta pela conquista do prêmio de reconhecimento institucional.Para isso,teriam que fazer várias provas,alcançar médias altíssimas. Os pensamentos convergiam para a conquista.
   O verão estava chegando. Georg,no alojamento,arrumava suas coisas para passar as férias em casa. Veria,enfim,os seus maiores professores. Ouviu seu nome sendo chamado. Era uma urgência na diretoria. Quando chegou, Martha o recebeu com um grande sorriso e um beijo que o deixou vermelhinho... Na mesa principal da sala de coordenação central,um troféu : "Award reference special education for children worldwide ". Georg sorriu e respirou fundo. A diretora se aproximou.
   - Com sua ajuda,Georg,conseguimos o título! - disse Martha,com os olhos marejados. Você merece um prêmio. O que você quiser... É só pedir!
   O menino abaixou a cabeça e se lembrou do enorme jardim,o seu Olimpo,o penhor de criatividade. Então,levantando o rosto,respondeu serenamente:
   - Imaginação... 


                                                                          (Thiago Vieira Cruz)