19 de janeiro de 2012

Vamos rir?

Ontem, foi o Dia Internacional do Riso. É difícil, ultimamente, não encontrar algo que não seja cômico, afinal, com tantos bordões e suas paráfrases – nisso, tem-se a “Luíza que está no Canadá” (estava, né...), junto com as meninas que “quebraram a mesa de Lucinha”, “tomando seus ‘bons drink’ na piscina” –, sempre há o que se comentar nos salões de beleza, nas mesas de bar e, principalmente, naquelas aulas chatas, que, não sei vocês, mas despertam em mim o “diabinho do sono” (o qual, diga-se de passagem, recepciono calorosamente).
É, porém, de se questionar onde está a fonte que nos faz jorrar gargalhadas. Será que ela enguiçou? Sinto falta de rir porque cheguei atrasado à aula, porque fui demasiado lírico – a ponto de ser ridículo – ao me declarar pra quem gosto, ou porque li uma crônica de Veríssimo e identifiquei-me bastante, o que abriu a fechadura do riso e liberou toda a minha emoção contida.
Aliás, esse é o nosso problema: guardamo-nos – ou resguardamo-nos – demais. Forçosamente, muitas vezes, impedimos a naturalidade de exercer seu papel no cotidiano e ela, frustrada, parece querer vingar-se de nós. É aí que começam nossos problemas, onde parimos os mal-entendidos, as discussões desnecessárias.
Se fôssemos menos tensos, e deixássemos que o ridículo (que é, sim, inerente a todos) pulasse um frevo, ou dançasse um tango sensual conosco, viveríamos histórias mais excitantes; seríamos mais interessantes, “tragáveis”. Mas, não... Como sempre, precisamos ser sisudos, insossos, mostrar que sabemos mais, que “está tudo sob controle”. Cremos veementemente que é um erro crasso assumir, em público, nossa carência, nossas expectativas – ou, quem sabe, a falta delas – e nossa ignorância.
O ridículo é nada mais do que a exacerbação do nosso eu, uma projeção natural “consertadamente desconsertada” daquilo que desejamos ser, e que é camuflada por nosso ego racional.
Enquanto nos mantivermos presos e não almejarmos horizontes mais longínquos, mesmo que desconhecidos, nossas vidas continuarão monótonas e vagas. Vamos olhar para frente e enxergar o mundo!
Claro que não devemos viver em função estritamente da opinião alheia, sempre tensos com o que os outros irão opinar sobre nós, mas mostremos, a todos que quiserem ver, que nossos 16 pares de dentes – bom, há quem tenha mais, ou menos... – servem, também, para decodificar a alegria que nosso sistema nervoso deseja representar. Sejamos ridículos! Façamos com que todos os dias, mesmo que com os imbróglios e obstáculos, sejam, efetivamente, os dias do “riso”.
Bom, agora, com licença, que eu vou assistir a minha sacrossanta novela das nove e rir um pouquinho com o “Crô”!




 (Thiago Neves)


Thiago Neves é novo autor do Amanheceu um pensamento.

18 de janeiro de 2012

Sonhos de criança


          Sempre quis ter, em minhas mãos, a arte de dominar as palavras. Fazer delas mais que uma nova amizade, ou habilidade. Como já desejei tornar o ato de brincar com as letras e signos linguísticos algo intrínseco a minha personalidade, ou, então, subjugá-las a minha vil vontade. Não sei muito bem o que queria.
          Quanta ignorância...
        Se, ao menos, eu soubesse que os melhores momentos da minha reles existência foram, simplesmente, sinestésicos: odores, toques, audições, e, especialmente, olhares. Se eu fosse menos prolixo e mais prático, talvez tivesse aproveitado melhor o que a vida gentilmente me oferecera e retribuído com mais gratidão, ao invés de me questionar “porque não fora melhor, desse ou daquele jeito”.
        Ainda me encontro numa busca vaga, por algo que creio ter perdido na transição entre a infância e a adolescência. Algo que ficou embrenhado entre os bonecos de luta, as notas “dez” em matemática e as espinhas e cravos desagradáveis – sempre acompanhados, diga-se logo, por inúmeros folículos pilosos e uma leve rebeldia incontida. Uma peça perdida, que não se encaixa, muito menos encontra o caminho para casa. Mas que casa? Casa-coração, casa-memória, casa-coração-memória, ou... simplesmente, casa?
       Talvez essa peça esteja escondida num recôndito dentro de mim, cujo acesso não me é permitido. Talvez...
        Então, de quê importa encontrar essa merda?! A vida passa, leva-me junto – como uma furiosa tempestade de areia – e, cá, estou eu, leviano, inutilmente à procura daquilo que já passou. A língua do povo já dizia: “Perdeu, playboy!”. Por que, cargas d’água, não me contento, tergiverso essa vontade indômita e sigo em frente?
         Hoje, minha busca – quase patológica, mas necessária – é por perspectivas. Olho para frente, vejo o mundo, mas não me encontro nele. Serei invisível, ou apenas mais uma agulha no palheiro?
          Alguém frígido, sem amor, mas com sonhos infantis – ou quem sabe infanto-juvenis: ser conhecido e reconhecido, descobrir o mundo, estudar e aprender. Sonhos bobos de um jovem arrogante, aspirante a cientista. Sonhos narcísicos e vulgares. Mas, sonhos...
          Daqui a alguns anos, estarei com um jaleco, um estetoscópio – e, talvez, até um bisturi – em mãos e só. Isolado na minha redoma, quase intangível, de conhecimentos que aspiro a ter, mas continuarei a vislumbrar sonhos. Quiçá, possa até amar. Amor. Palavra quase asquerosa, se não fossem seus efeitos adversos!
          E meus sonhos? Continuarão infantis?
          “Talvez”. A dúvida é a única perspectiva real que posso ter agora.



(Thiago Neves) 



Thiago Neves é nosso convidade especial.