29 de setembro de 2011

Isso

- Mas o que isso está fazendo aqui? Vai atrapalhar minhas vendas! – resmungou o moço, dono de um comércio.

- Saia já daqui! – gritou, acordando “Isso”.

“Isso” levantou rapidamente, com um susto. Mas, na verdade, era devagar... “Isso” não tinha muita força para ser rápido.

- Me deixe! Saia! – respondeu “Isso”.

O moço entrou em sua lojinha para buscar uma garrafa. Voltou para fora e falou:

- Olhe, trouxe isto para você... – e balançava a garrafa, como se estivesse mostrando alimento a um bicho qualquer.

- Me dá! Me dá! – implorou “Isso”.

- Então, venha cá buscar e saia já daí de frente à minha loja. – disse o moço.

            E continuava balançando a garrafa...

- Eu vou sair, vou sair! Mas me dá!

            “Isso” corria em direção à garrafa. Mas, na verdade, “Isso” se arrastava, porque estava em um estado de quase total degradação.

            O que “Isso” tanto queria da garrafa era um pouco mais de sua água do esquecimento. “Isso” não fazia a menor questão de pedir alimento para sobreviver. “Isso” só queria ficar desacordado e passar por mais um dia, esquecido de viver.

            O moço não se importava com “Isso”. Jamais lhe deu um prato de comida. Mas fazia questão de balançar a garrafa do lado de fora da loja, para que “Isso” saísse de lá. O moço também esquecia um pouco de viver.

“Isso” era tratado como se fosse um bicho qualquer...

            “Isso” nem era chamado de homem, pelo próprio homem.


(Marcela Santos)

9 comentários:

Thiago Vieira Cruz disse...

Sinceramente, não tenho nem palavras para descrever "Isso" que acabei de ler...
Uma de suas melhores postagens, sem dúvidas.
Parabéns. Depois eu que sou o escritor. Rsrs.
Adorei.
Parabéns, lindinha!

Caio Fernando disse...

Nossa!
Você!Você é incrível! Com certeza, como disse um escritor acima, essa é uma de suas melhores postagens. Uma crítica social profunda. Há muitos "issos" por aí. Infelizmente, existe quem consiga pensar no outro apenas como algo aleatório, passageiro... Todavia, seu texto consegue levantar uma esperança. Ainda que o final do texto não apresente uma solução para o enfrentamento do problema, a crítica, em si, é a própria solução. Isso foi lindo.
" 'Isso' nem era chamado de homem, pelo próprio homem.": rendi-me a isso. És escritora, Marcela. Admiro cada letra, cada palavra! Você é ótima!
Adorei, mesmo!

oi disse...

noooosssaa!!!!!!!
qunta beleza nessse testo!!!
sou faaa!!!!! vc e critica, expetacular....amei

oi disse...

ja tava morrrrreeendo de saudd dos teus textos!!!!!!

Francisco Renaldo disse...

Um "pequeno gigante" texto!
Grande crítica. Ótimo desempenho!

Cecília Naomi disse...

Ótimo de ler...Agrada os olhos,a alma.Suas palavras me leram.Foi isso o que aconteceu.

Roberta Dias disse...

caralho! mto bom!

Anônimo disse...

gostei mtooooo. caramba vai te pra merda, tu escreve muuiiitoooo!

Vinícius disse...

texto lindo.