Algo que acho bonito é a diversidade possível de se interpretar a vida.
Conheço um tio que trabalha consertando eletroeletrônicos, eletrodomésticos, eletro enfim. Das poucas vezes que conversamos, pude perceber que ele é bastante inteligente. Costuma me contar das coisas que sabe sobre a Medicina, e das coisas que viu, devido ser curioso. E me pergunta dos aprendizados, dos cadáveres, das práticas. E mesmo que, no meu caso, ainda seja bem pouco, ele sempre acha interessante.
Hoje nós fizemos o inverso. Hoje, fui eu que perguntei.
No quintal da minha avó, é o local de trabalho dele, junto com meu tio. E lá sentei. Como uma criança que está em desenvolvimento, perguntava: O que é isso? Pra que serve? Mas... Por que?
Ele respondeu tudo, e de um jeito bastante interessante.
- Isso aqui - e disse o nome da peça - é como se fosse o coração. Por onde todas as correntes passam.
E mostrou a placa, que poderia ser comparada ao cérebro, sem a qual nada funciona. Cada uma das pecinhas, que poderiam ser órgãos ou qualquer parte funcional, tem sua importância e papel para um bom funcionamento do aparelho. Dizia tudo com suas palavras.
Eu ouvia, aprendia e imaginava...
- Eu sempre comparo os aparelhos como se fosse gente. Pra descobrir qual é o problema, eu também tenho que analisar – Prosseguiu na sua explicação.
- Quando alguém chega trazendo uma televisão quebrada, por exemplo, eu pergunto como foi que aconteceu. O que causou aquele defeito. E fica mais fácil de identificar. É como o médico que conversa com o paciente.
Ele acabava de descrever uma anamnese. E eu vi, mais uma vez, a importância do histórico, da conversa, do direcionamento para chegar a um diagnóstico.
- Quando não sabem dizer o que aconteceu, eu tenho que abrir o aparelho. Não tenho o recurso dos exames. Tenho que ir testando, até descobrir qual o problema.
De certa forma, quando o médico examina, ele está testando. No exame físico, testa a normalidade anatômica. Nos exames laboratoriais, igualmente, testa as normalidades anatômica e fisiológica. O que estiver de mais ou de menos, deve ser “consertado”. Algumas vezes, também é preciso abrir.
- É uma pena que muitos médicos nem examinem mais seus pacientes – reclamou.
- Por que? – Ele me perguntou para não perder o costume. Respondi contando sobre as conversas que temos sobre o assunto.
Foi assim que, hoje, aprendi um pouco sobre eletrônica. Mas aprendi também um pouco mais sobre a vida. Afinal, é preciso experimentar os diversos sabores de viver e interpretar, para se ter um verdadeiro empenho em salvar.
- Tchau. Da próxima vez, conversamos mais sobre os eletros – despediu-se.
Ele gostou de ensinar. E eu adorei aprender...
PS: Gostaria de agradecer aos que têm comentado no blog... Obrigada!
(Marcela Santos)