Sempre quis ter, em minhas
mãos, a arte de dominar as palavras. Fazer delas mais que uma nova amizade, ou
habilidade. Como já desejei tornar o ato de brincar com as letras e signos linguísticos
algo intrínseco a minha personalidade, ou, então, subjugá-las a minha vil
vontade. Não sei muito bem o que queria.
Quanta ignorância...
Se, ao menos, eu soubesse que os melhores momentos da
minha reles existência foram, simplesmente, sinestésicos: odores, toques,
audições, e, especialmente, olhares. Se eu fosse menos prolixo e mais prático,
talvez tivesse aproveitado melhor o que a vida gentilmente me oferecera e
retribuído com mais gratidão, ao invés de me questionar “porque não fora
melhor, desse ou daquele jeito”.
Ainda me encontro numa busca vaga, por algo que creio ter
perdido na transição entre a infância e a adolescência. Algo que ficou
embrenhado entre os bonecos de luta, as notas “dez” em matemática e as espinhas
e cravos desagradáveis – sempre acompanhados, diga-se logo, por inúmeros
folículos pilosos e uma leve rebeldia incontida. Uma peça perdida, que não se
encaixa, muito menos encontra o caminho para casa. Mas que casa? Casa-coração,
casa-memória, casa-coração-memória, ou... simplesmente, casa?
Talvez essa peça esteja escondida num recôndito dentro de
mim, cujo acesso não me é permitido. Talvez...
Então, de quê importa encontrar essa merda?! A vida passa,
leva-me junto – como uma furiosa tempestade de areia – e, cá, estou eu,
leviano, inutilmente à procura daquilo que já passou. A língua do povo já
dizia: “Perdeu, playboy!”. Por que, cargas d’água, não me contento, tergiverso
essa vontade indômita e sigo em frente?
Hoje, minha busca – quase patológica, mas necessária – é
por perspectivas. Olho para frente, vejo o mundo, mas não me encontro nele.
Serei invisível, ou apenas mais uma agulha no palheiro?
Alguém frígido, sem amor, mas com sonhos infantis – ou
quem sabe infanto-juvenis: ser conhecido e reconhecido, descobrir o mundo,
estudar e aprender. Sonhos bobos de um jovem arrogante, aspirante a cientista.
Sonhos narcísicos e vulgares. Mas, sonhos...
Daqui a alguns anos, estarei com um jaleco, um
estetoscópio – e, talvez, até um bisturi – em mãos e só. Isolado na minha
redoma, quase intangível, de conhecimentos que aspiro a ter, mas continuarei a
vislumbrar sonhos. Quiçá, possa até amar. Amor. Palavra quase asquerosa, se não
fossem seus efeitos adversos!
E meus sonhos? Continuarão infantis?
“Talvez”. A dúvida é a única perspectiva real que posso
ter agora.
(Thiago Neves)
Thiago Neves é nosso convidade especial.
20 comentários:
noooossssa! bote convidadO especial nisso! nunca vi um Texto tão lindo sobre as nossas escolhas, sobre o futuro incerto, sobre essas coisas que agente vive nessa vida passageira... adorei o convidado. espero ue ele poste mais.....MUUUITO MAISSSS!!!
só amei o texto desse convidado, cujo nome lembra um escritor excelentíssimo daqui do amanheceu!
os Thiagos estão com tudo meu Deus! sxhxhshshsxh
gostei muito desse texto... falou tudo q eu precisava no momento....
eu sempre passaca por aqui, nesse blog. mas com esse texto eu fiquei muito encantado. agora vou passar todas as vezes que o thiago postar. lindo gostei mto!
thiago neves adorei vc, é diferente o seu modo de produção... sabe eu tive que me concentrar bastante pra poder entender alguns parágrafos mas valeu muito a pena porque eu consegui entender o que vc queria dizer.... realmente as incertezas estarão sempre presentes.........
Bom, gente, primeiramente, gostaria muito de agradecer a todos vocês pelos comentários. Realmente fiquei muito feliz com o que foi dito aqui. Vocês não têm noção de como eu estava nervoso, em relação a esse primeiro texto. Fui oficialmente incorporado ao blog e, como disse à Marcela e ao Thiago, fico muito feliz por isso ter acontecido. Agradeço aos dois por me darem essa oportunidade. É óbvio que não sou um exímio escritor - e, talvez, o fato de vocês terem gostado de algo do meu texto, tenha sido mera sorte, um bom momento de inspiração, não sei... -, mas já firmo o compromisso de cumprir com a responsabilidade que essa parceria trás consigo. Espero poder contribui com o blog da melhor maneira possível. Que eu sempre possa aprender com as críticas e comentários de vocês, para fazer do "Amanheceu um pensamento" um blog cada vez melhor. Bem, era isso. Obrigado a todos!
esse texto está fantástico tbm, e sobre o seu comentário: fico muito feliz por ter você como o novo escritor do blog..... gosto do thiago cruz, da marcela santos, do miler silva..... ah, todos são sensacionais.... sou uma mulher mais feliz por causa de vcs.
texto mto bom!
legal tbm! gostei do estilo do thiago neves.
lindo do início ao fim
esse texto eu vou salvar aqui no meu computador - muito bonito, profundo, filosófico. os thiagos estão arrasando por aqui
já sou sua fã. cadê o livro
Repetindo o que eu já havia dito: aqui, parece haver um encontro entre dois Eus.
E o embate entre eles foi o que me chamou a atenção.
Aos modos de facebook: curti!
Começamos bem, janeiro.
sempre é bom ler coisas agradáveis, principalmente quando o escritor nos estimula a ver os nossos "eus"... temos facetas que passamos a analisar melhor mediante ao descobrimentos de nossas caras. é normal ser "bipolar"... se moléculas podem manifestar oposições, porque nós não poderiamos estar submersos nessa mesma pedagogia de oposições e descobertas!!!!!
estou triste pq a marcela santos não postou mais NADA no blog. muito triste mesmo!!!!!
devorei cada letra como se o conjunto delas me fosse uma refeição psicológica! desse jeito eu vou encondar, moço escritor.
gostei muito... parabéns querido escritor.
texto lindíssimo! sempre o leio
na minha opinião esse texto não está bom. está maravilhoso! parabéns ao escritor
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