Ontem, foi o Dia Internacional do Riso. É difícil,
ultimamente, não encontrar algo que não seja cômico, afinal, com tantos bordões
e suas paráfrases – nisso, tem-se a “Luíza que está no Canadá” (estava, né...),
junto com as meninas que “quebraram a mesa de Lucinha”, “tomando seus ‘bons
drink’ na piscina” –, sempre há o que se comentar nos salões de beleza, nas
mesas de bar e, principalmente, naquelas aulas chatas, que, não sei vocês, mas
despertam em mim o “diabinho do sono” (o qual, diga-se de passagem, recepciono
calorosamente).
É, porém, de se questionar onde está a fonte que
nos faz jorrar gargalhadas. Será que ela enguiçou? Sinto falta de rir porque
cheguei atrasado à aula, porque fui demasiado lírico – a ponto de ser ridículo
– ao me declarar pra quem gosto, ou porque li uma crônica de Veríssimo e
identifiquei-me bastante, o que abriu a fechadura do riso e liberou toda a
minha emoção contida.
Aliás, esse é o nosso problema: guardamo-nos – ou
resguardamo-nos – demais. Forçosamente, muitas vezes, impedimos a naturalidade
de exercer seu papel no cotidiano e ela, frustrada, parece querer vingar-se de
nós. É aí que começam nossos problemas, onde parimos os mal-entendidos, as
discussões desnecessárias.
Se fôssemos menos tensos, e deixássemos que o
ridículo (que é, sim, inerente a todos) pulasse um frevo, ou dançasse um tango
sensual conosco, viveríamos histórias mais excitantes; seríamos mais
interessantes, “tragáveis”. Mas, não... Como sempre, precisamos ser sisudos,
insossos, mostrar que sabemos mais, que “está tudo sob controle”. Cremos
veementemente que é um erro crasso assumir, em público, nossa carência, nossas
expectativas – ou, quem sabe, a falta delas – e nossa ignorância.
O ridículo é nada mais do que a exacerbação do
nosso eu, uma projeção natural “consertadamente desconsertada” daquilo que
desejamos ser, e que é camuflada por nosso ego racional.
Enquanto nos
mantivermos presos e não almejarmos horizontes mais longínquos, mesmo que
desconhecidos, nossas vidas continuarão monótonas e vagas. Vamos olhar para
frente e enxergar o mundo!
Claro que não devemos viver em
função estritamente da opinião alheia, sempre tensos com o que os outros irão
opinar sobre nós, mas mostremos, a todos que quiserem ver, que nossos 16 pares
de dentes – bom, há quem tenha mais, ou menos... – servem, também, para
decodificar a alegria que nosso sistema nervoso deseja representar. Sejamos
ridículos! Façamos com que todos os dias, mesmo que com os imbróglios e
obstáculos, sejam, efetivamente, os dias do “riso”.
Bom, agora, com licença, que eu
vou assistir a minha sacrossanta novela das nove e rir um pouquinho com o
“Crô”!
(Thiago Neves)
Thiago Neves é novo autor do Amanheceu um pensamento.